Aqui estou eu escrevendo pra você meu amigo que hoje nos deixou.
E não estou aqui querendo falar aquilo que não falei pra você em vida... Todas as homenagens e reconhecimento que pude fazer fiz lá na sua loja ou nos campeonatos de futmesa durante esses longos anos de convivência.
Socorro, a cidade onde ainda se vive foi minha segunda casa durante quase 15 anos da minha vida. E lá pude te conhecer pela amizade que tinha com meu avô.
Foi lá na Irmo Calçados que você me disse que estava criando uma equipe para se filiar junto a Federação Paulista de Futebol de Mesa. E assim, convidou eu e meu pai para nos juntarmos a equipe do XV de Agosto, até então desconhecido no mundo do esporte da bolinha de feltro.
Lembro da sua alegria quando fui vice de uma série bronze em 1996. Lembro dos jogos em que o XV era saco de pancadas e você na reunião antes do jogo dizia que nossa meta era fazer o máximo de pontos possíveis.
Nessa época você começou a formar um dos maiores jogadores da história do futmesa: seu filho Quinho que nem alcançava a mesa e jogava lá na parte de baixo do mezanino, junto com a molecada que você ensinava a dar as primeiras palhetadas.
Em 1998, no dia 8 de março fomos jogar na Vila Belmiro contra o Santos. Não me lembro o resultado, mas me lembro que entramos no gramado para tirar uma foto do esquadrão socorrense. E aquela foto seria a última do meu pai no meio do futmesa. A foto que até hoje está estampada na parede da sua loja.
Aqui vem um capítulo a parte nessa história da nossa convivência: quando meu pai sofreu o derrame, você largou o seu trabalho para colocar meu avô e minha avó no seu carro e trazer até São Bernardo. Minha avó até hoje conta que você veio distraindo ela e rezando o terço pedindo a Deus que meu pai melhorasse.
Quando chegou aqui dormiu no chão da casa da minha tia e dizia que só iria embora quando soubesse o estado de saúde do meu pai. Foi embora mais uma semana depois voltou para se despedir do amigo que Deus tinha levado.
Um dia me devolveu o time que tinha trocado nos famosos rolos do Anacletão. Aquela seleção brasileira de 1970 era o primeiro time que meu pai tinha feito pra mim e você me disse com lágrimas nos olhos que quando ia à missa rezava por duas pessoas falecidas e uma delas era meu pai.
Quis o destino que o primeiro jogo de uma equipe capitaneada por mim, o Grêmio Mauaense, fosse contra o XV de Agosto. Naquele dia vocês aplicaram uma goleada de 100 X 07 sem dó nem piedade e me lembrei que seríamos aquele saco de pancadas que o XV foi um dia, mas que se colocasse em prática tudo que você me ensinou teríamos êxito.
E aos poucos, com a ajuda de muitas pessoas, alguns deles que também aprenderam com você, citando como exemplo o Cahuê e o Denis, fomos nos consolidando. Orgulhoso por onde passava falava: o Meninos é cria do XV!
Em abril de 2005, depois da nossa sala reformada, fizemos uma reinauguração em um amistoso contra o XV. Naquele dia a sala passava a se chamar Márcio Roberto Ramalho. Me lembro que na última rodada ganhei de você e ao final do jogo chorava como uma criança e te agradeci por tudo que me ensinou. Tenho até hoje os dois jornais da cidade falando da inauguração da sala com o nome do botonista que jogou no XV.
O tempo foi passando e onde eu te via fazia questão de dizer do respeito e admiração que sempre tive pelo exemplo de ser humano chamado Anacleto Zuccato.
Hoje é um dia triste, você nos deixou. Daqui a pouco vou até Socorro triste, pra dar um abraço nos seus filhos e nos meus amigos do futmesa de Socorro que conheci por seu intermédio. E como chorou hoje o Sr. Antônio, aquele que ia pra sua loja pra ler o jornal, falar de política e futebol.
Vai com Deus meu amigo. Lá em cima monta os cavaletes, ponha a mesa em cima e bate uma bolinha com meu pai. Eu, aqui embaixo vou continuar levando com orgulho a bandeira do Futebol de Mesa esse esporte apaixonante que você ensinou para tantos como eu.
Deixo aqui pra você um trecho de uma música que hoje me lembrei com lágrimas nos olhos:
"Quando seus amigos
Te surpreendem
Deixando a vida de repente
E não se quer acreditar...
Te surpreendem
Deixando a vida de repente
E não se quer acreditar...
Mas essa vida é passageira
Chorar eu sei que é besteira
Mas meu amigo!
Não dá prá segurar...
Chorar eu sei que é besteira
Mas meu amigo!
Não dá prá segurar...
Desculpe meu amigo
Mas não dá prá segurar.."
Mas não dá prá segurar.."